Frequentemente, quando falamos de questões de autoestima, ouvimos que precisamos nos amar e acreditar em nós mesmos antes de qualquer coisa. Embora pareça um conselho válido e que faz sentido, a verdade é que, para muitas pessoas, não é fácil ou simples nutrir esse sentimento de amor próprio. E isso faz todo o sentido do mundo: da mesma forma que não aprendemos a amar outra pessoa da noite para o dia, não é possível cultivar esse sentimento por nós mesmos de forma tão rápida.
Imagine que você está conhecendo uma pessoa nova. De início, é possível ter sentimentos bastante intensos por essa pessoa, mas estes sentimentos não são amor, pois estão baseados em uma idealização da pessoa. É só a partir do momento que essa idealização se quebra que podemos falar de amor e, para isso, é necessário investir tempo na pessoa, buscando conhecê-la melhor, conhecer suas falhas e seus acertos, entender de que forma aquela pessoa se apresenta para nós e que tipo de relação se forma com o tempo. Só então podemos falar em amor.
Quando uma pessoa tem problemas de autoestima, se ela começa a “amar a si mesma” da noite para o dia, muito provavelmente este amor está pautado em uma ilusão, uma distorção na autoimagem, da mesma forma que uma pessoa apaixonada vê a outra pessoa de forma extremamente idealizada.
O amor demora para ser cultivado e ele só ocorre diante da aceitação das imperfeições, na resolução dos conflitos, na capacidade de reparação depois de erros cometidos; habilidades que levam tempo para serem aprendidas. Portanto, não é do dia para a noite que o amor próprio surge e a falta dele não deve ser motivo para impedir alguém de fazer alguma coisa.
Não estou querendo dizer que o amor próprio não é importante. Ele é, provavelmente, uma das coisas mais importantes que temos na vida. Mas ele não vem por pura força de vontade. Conquistá-lo pode ser trabalhoso, e ninguém deve se privar de fazer coisas ou vivenciar experiências novas por falta de amor próprio. São exatamente essas experiências que nos ensinam como lidamos com o mundo, nossas capacidades e nossas limitações, para que aí sim possamos cultivar o amor. Amar é aprendizado, e é fazendo que se aprende.