De acordo com Paulo Knapp (2004), a terapia cognitivo-comportamental (TCC) está fundamentada em 3 pressupostos básicos:
- A atividade cognitiva influencia o comportamento;
- A atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada;
- O comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança cognitiva.
No entanto, para entender esses pressupostos básicos, é importante compreender o que é atividade cognitiva, de que forma ela ocorre e como exatamente ela influencia o comportamento.
O que é atividade cognitiva?
O termo “atividade cognitiva” se refere a tudo que se passa em nossa mente, como nossos pensamentos, a percepção, a interpretação de eventos, entre outros.
De acordo com a TCC, a atividade cognitiva ocorre de forma automática, tendo como base nossas crenças nucleares. As crenças nucleares acabam dando vida ao que chamamos de pensamentos automáticos (PA), ou seja, são pensamentos que aparecem de forma completamente automática diante de uma situação.
Em geral, esses pensamentos automáticos não são resultado de uma reflexão prévia, não costumam ser questionados e geralmente são tidos como verdades, embora nem sempre sejam realistas. Quando os PAs surgem a partir de uma crença nuclear disfuncional, eles tendem a sofrer distorções que fazem com que a interpretação dos eventos sejam errônea e prejudicial para nós.
Como funciona a influência da atividade cognitiva sobre o comportamento?
Na TCC, acreditamos que a atividade cognitiva gera reações comportamentais, emocionais e até mesmo fisiológicas. É por isso que acabamos ficando triste ao ter um pensamento negativo, e podemos agir por influência desses pensamentos e sentimentos.
Nem sempre isso é um problema, como por exemplo quando temos um pensamento positivo e nos sentimos motivados a fazer alguma coisa produtiva, que vai de acordo com nossos valores e objetivos. Por exemplo, uma pessoa que está em busca de emprego pode pensar de duas formas:
- “Eu não sou competente, então não vou conseguir nenhum emprego”;
- “Eu tenho qualidades e competências, acho que consigo arranjar um emprego”.
No primeiro cenário, a pessoa pode acabar se sentindo mal e desistir de buscar um emprego, podendo se engajar em atividades prejudiciais para tentar lidar com o sentimento desagradável, como comer demasiadamente, buscar entretenimento como forma de escapismo, entre outros.
Já no segundo cenário, o reconhecimento de suas qualidades e competências fazem a pessoa se sentir bem e confiante, fazendo com que efetivamente busque um emprego, enviando currículos e participando de entrevistas para atingir seu objetivo.
No entanto, como dito anteriormente, os pensamentos que temos costumam ser influenciados pelas crenças nucleares que temos. Se temos crenças disfuncionais, ou seja, crenças que nos prejudicam, tendemos a ter mais pensamentos negativos.
Por isso, a grande sacada da TCC está em questionar nossos pensamentos automáticos, reconhecendo as distorções nas quais acabamos acreditando e que acabam prejudicando nossos comportamentos, nos afastando dos nossos sonhos, valores e objetivos!
Como é feito esse questionamento?
Primeiro, vamos identificar as suas crenças centrais disfuncionais. Na terapia, isso é feito de forma simples: podemos preencher um exercício de identificação de crenças, ou até mesmo podemos ir identificando algumas crenças a partir da maneira que você fala de si mesmo e dos acontecimentos na sua vida.
Depois de identificar essas crenças, vamos percebendo de que forma elas influenciam seu pensamento, prestando atenção nos pensamentos negativos.
Após separar alguns pensamentos, podemos começar a questionar eles. A ideia é tentar entender quais são as evidências de que esse pensamento é realista.
Existem casos, claro, em que pensamentos negativos podem ser realistas. A vida não é só flores e às vezes esses pensamentos podem sim ser uma representação precisa da realidade. No entanto, isso tende a ser mais raro.
É mais comum que nossos pensamentos negativos estejam sendo influenciados pelas nossas crenças disfuncionais, fazendo com que o simples exercício de contestação desses pensamentos permita termos uma visão mais condizente com a realidade.
Para verificar a veracidade de um pensamento, fazemos exercícios de reestruturação cognitiva. Nestes exercícios, buscamos identificar quais os fatos que contribuem para esse pensamento, bem como os fatos que contradizem ele. Com base nas evidências, podemos concluir se um pensamento é falso ou verdadeiro.
Infelizmente, às vezes podemos chegar à conclusão de que um pensamento negativo é verdadeiro. Nestes casos, trabalhamos para tentar modificar as condições que estão levando a esses pensamentos.
Por exemplo, se uma pessoa está em um relacionamento no qual não se sente valorizada, tentamos entender de onde vem esse pensamento. Às vezes a outra pessoa desmarca coisas em cima da hora, ou não cumpre as promessas que faz, ou até mesmo invalida as emoções da pessoa. Neste caso, podemos dizer que esse pensamento é bastante realista. Porém, para que a pessoa não continue sofrendo nesse relacionamento, podemos pensar em algumas soluções. Dentre elas, há a possibilidade de conversar com o parceiro, a possibilidade de pedir um tempo para pensar melhor se gostaria de continuar o relacionamento, ou, em casos mais severos, optar pelo rompimento da relação.
Em outras palavras, a partir da terapia, a pessoa deixa de agir refém dos seus pensamentos e sentimentos e começa a ter comportamentos mais alinhados com o que deseja, melhorando seu bem-estar como um todo.
Vale ressaltar que cabe à pessoa tomar a decisão final sobre como agir diante das situações de acordo com as evidências e o que acredita ser o melhor para si mesma. Em outras palavras, a terapia não vai magicamente consertar sua vida, mas pode te ajudar a compreender melhor a si mesmo, seus sentimentos e objetivos, bem como agir de acordo.
Como isso ajuda no caso de transtornos mentais?
Os transtornos mentais frequentemente são acompanhados de crenças disfuncionais bastante conhecidas, bem como distorções cognitivas facilmente identificáveis.
Ao questionar esses pensamentos, podemos mudá-los para pensamentos mais realistas ou, alternativamente, podemos buscar mudanças comportamentais que contribuam para nosso bem-estar, ajudando a lidar com os sintomas de diversos transtornos, como a ansiedade, a depressão, entre outros.
Contudo, a terapia não é apenas para pessoas diagnosticadas com transtornos mentais. Qualquer pessoa que esteja passando por um momento emocionalmente delicado ou que esteja com vontade de conhecer mais sobre si mesma pode se beneficiar do processo terapêutico baseado no aporte teórico da TCC.
Referência
Knapp, P. (2004). Terapia Cognitivo-Comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed.