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Acho que tenho um transtorno mental, e agora?

Psicoterapia
julho 3, 2024

Hoje em dia, é fácil encontrar informações bastante completas sobre diagnósticos de transtornos mentais na internet. O avanço das redes sociais também contribuiu para que pessoas previamente diagnosticadas pudessem compartilhar relatos sobre suas vivências, fazendo com que pessoas não diagnosticadas possam identificar questões em si mesmas. Mas o que fazer ao perceber que você está se identificando muito com algum transtorno em específico?

Passo 1: Procurar ajuda profissional

Embora pareça óbvio, nem sempre as pessoas adotam como primeiro passo buscar a palavra de um profissional da saúde mental.

Isso é compreensível, considerando que existem profissionais de todos os tipos e alguns transtornos podem ser mais difíceis de detectar do que outros, sendo necessário procurar um profissional especializado nestes casos.

No entanto, buscar um profissional é o primeiro passo, não só para conseguir o diagnóstico do transtorno, mas também para investigar e tratar possíveis sintomas significativos e comorbidades.

Passo 2: Manter a mente aberta

Ao procurar um profissional com um diagnóstico já em mente, é claro que é chato receber a notícia de que pode ser outra coisa.

Acredito que isso ocorre por dois motivos: o primeiro é que a identificação com um transtorno específico acaba fazendo com que a gente sinta uma certa invalidação a respeito da nossa própria autoimagem ao ouvir que talvez não temos o diagnóstico que achamos que temos, o segundo é o medo do que essa outra coisa pode ser.

Será que é algo pior, mais difícil de tratar? Ou será que pode ser algo mais simples? Ou, pior, e se não for nada, e isso quer dizer que não existe cura para o meu sofrimento?

Independentemente, a verdade é que os mesmos comportamentos e sintomas podem ter origens completamente diferentes e não é raro que transtornos bastante distintos tenham sintomas em comum.

Sintomas como desorganização, dificuldade de gestão de tempo e dificuldades de concentração são sintomas bem característicos do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), mas eles também podem estar presentes em grande intensidade em pessoas que sofreram traumas complexos.

Entender que os mesmos sintomas podem ter origens diferentes é entender que também podem necessitar de tratamentos diferentes e o que funciona para um transtorno não necessariamente irá funcionar para outro transtorno.

Por conta disso, manter a mente aberta é muito importante, porque a possibilidade de trabalhar o que traz sofrimento é mais relevante do que o diagnóstico em si.

Passo 3: Continuar tentando

Infelizmente, diagnósticos de transtornos mentais podem ser processos demorados e não tão simples.

Alguns transtornos necessitam baterias de testes, como é o caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou o próprio TDAH.

Já outros transtornos podem ser diagnosticados sem a necessidade de testes, mas pode demorar várias consultas para conseguir fechar o diagnóstico de forma correta.

É importante lembrar que, nas primeiras sessões, são feitas apenas hipóteses diagnósticas. Em outras palavras, aquilo que o profissional fala que identificou em você pode mudar com o tempo de acordo com o processo terapêutico, a resposta às intervenções feitas, bem como o relato dos sintomas ao longo do tempo.

Há transtornos que demoram de meses a anos para serem diagnosticados pois dependem da observação dos sintomas por longos períodos de tempo.

Sei bem que isso é desanimador, mas compensa, porque do contrário, desistimos do tratamento, a saúde mental sofre com isso e a qualidade de vida decai significativamente.

Contundo, reitero, é mais importante tratar os sintomas a medida em que eles aparecem do que fechar um diagnóstico às pressas.

Passo 4: Sempre que sentir necessidade, busque ajuda

Eu já falei que, mais importante que o diagnóstico em si, é estar ativamente tratando os sintomas?

Sei que repeti isso várias vezes ao longo do texto, mas essa é a mensagem principal: se você acha que tem algum problema, busque ajuda, mesmo que não seja possível dar um nome a esse problema tão rápido.

Às vezes, o problema nem é um diagnóstico real, no sentido de que os sintomas apresentados não fecham os critérios diagnósticos de nenhum transtorno.

No entanto, isso não quer dizer que a pessoa não está sofrendo e não precisa de tratamento. Toda dor tem espaço na clínica, mesmo que não haja um transtorno em si por trás dela.

Claro que receber um diagnóstico específico ajuda a entender muitas coisas. Começamos a perceber porque agimos do jeito que agimos, porque certas coisas são tão difíceis para nós e não para as outras pessoas.

No entanto, o diagnóstico feito às pressas pode ser errado e acabar sujeitando a pessoa a tratamento que podem ter efeitos colaterais sérios e que não tem uma boa eficácia para o caso da pessoa.

É possível fazer uma comparação com uma dor física. Vamos supor que você sente dores na perna esquerda. As dores são intensas e você não consegue nem dormir, prejudicando sua qualidade de vida.

No médico, serão feitas hipóteses diagnósticas: pode ser que você tem uma simples distensão muscular, mas também pode ser algum problema mais sério como um problema reumatológico crônico.

No entanto, em um primeiro momento, se não há mais sintomas associados, é provável que o médico passe apenas alguns remédios para aliviar os sintomas.

Se for uma distensão muscular, eventualmente ela se cura e você deixa de sentir as dores. Se for algo diferente, as dores continuam depois que o tratamento sintomático termina. Nestes casos, a pessoa precisa fazer exames para poder identificar o que há de errado e tratar a causa do problema.

O mesmo ocorre com diagnósticos de transtornos mentais: uma primeira hipótese diagnóstica pode se provar errada ao longo do tempo. No entanto, dentro da saúde mental, não existem exames laboratoriais ou de imagem que possam ajudar no diagnóstico.

Portanto, o diagnóstico depende inteiramente da observação dos sintomas, o que pode levar bastante tempo, sendo muito uma questão de tentativa e erro.

Nesse meio tempo, no entanto, a pessoa não pode ficar sem tratamento, sofrendo com seus sintomas sem nenhum tipo de apoio. Por isso é importante continuar fazendo terapia e acompanhamento com profissionais da saúde mental independente de diagnóstico.

O que fazer enquanto o diagnóstico não sai?

Entendo que, enquanto estamos investigando uma condição, as pessoas podem se sentir desamparadas e gostariam de poder fazer algo por si mesmas quando suspeitam que sofrem de algum transtorno. Aqui vão alguns passos simples do que pode ser feito nesses momentos:

De forma geral, a dica é tentar manter uma rotina saudável: alimentar-se adequadamente, ter uma boa higiene do sono, praticar exercícios físicos, entre outros.

Diversos transtornos podem ter sintomas que atrapalham nisso, mas não raramente também podem melhorar muito quando a pessoa se esforça para conseguir manter esse estilo de vida.

Educar-se sobre o transtorno pode ajudar bastante, pois entendendo os sintomas e o que pode ser gatilho para eles ajuda a pessoa a estabelecer certos limites para que os sintomas não surjam com tanta frequência.

Também é possível aprender técnicas de autorregulação para lidar melhor com o próprio emocional em momentos de necessidade.

No entanto, nada disso substitui o tratamento com psicólogo e psiquiatra. Além disso, não faça uso de medicação sem a prescrição e o acompanhamento de um médico psiquiatra, pois pode ser extremamente perigoso.