Um dos conceitos que sempre gosto de apresentar às pessoas que atendo é o conceito de mindfulness, que passou a ser introduzindo na psicologia na década de 70 e tem se mostrado bastante útil para combater sintomas de transtornos mentais e melhorar a saúde emocional de modo geral.
Entrei em contato com esse tema pela primeira vez já durante a graduação, enquanto participava de um grupo de desenvolvimento de habilidades. Posso afirmar que incorporar o mindfulness no meu dia-a-dia mudou a minha vida e tenho certeza que muitas pessoas podem se beneficiar da técnica.
O que é Mindfulness?
Também conhecido como a arte da atenção plena, o mindfulness pode ser definido como uma concentração intencional no momento presente. É o famoso estar no aqui-e-agora, evitando que nossos pensamentos, sentimentos e julgamentos nos desconectem do momento presente.
É muito comum que, no dia-a-dia, nossa cabeça esteja cheia de pensamentos e nosso coração esteja sempre lidando com emoções que frequentemente nos tiram do momento presente, fazendo com que vivamos no chamado “piloto automático”. Fazemos as coisas sem prestar atenção, porque nossas mentes estão preocupadas com outras coisas.
O problema não é nos preocuparmos com as coisas, até porque preocupações fazem parte do dia-a-dia, mas essas questões não podem nos impedir de vivenciar o momento presente, especialmente momentos importantes nos quais nada podemos fazer em relação a estes pensamentos e sentimentos, que só ficam ali, atrapalhando.
Como o mindfulness pode me ajudar?
Como você se sente quando, ao tirar férias, continua se preocupando com as coisas do trabalho? Ou quando está trabalhando e de repente se pega pensando demasiadamente na vida amorosa? Ou até mesmo quando está fazendo compras e percebe que sua mente está mesmo é pensando em um desentendimento que teve com uma amizade recentemente?
Todas essas preocupações são válidas, mas percebe que elas estão ocorrendo em momentos inoportunos? Pois é exatamente isso que o mindfulness busca combater.
Focando no momento presente, é possível diminuir os níveis de ansiedade e preocupação em momentos nos quais esses sentimentos não trazem vantagem. Perceba: eu falei momentos em que eles não trazem vantagem.
Porque existem, sim, momentos nos quais a ansiedade e a preocupação podem ser nossas aliadas. A ansiedade pode ser útil para nos planejarmos para desafios futuros, como quando estamos nos preparando para uma prova ou uma entrevista de emprego. A preocupação também faz com que nós possamos deslocar energia para a resolução de problemas.
Sendo assim, esses sentimentos não são de todo ruins e não precisam ser eliminados completamente. Contudo, a questão é justamente não deixar que eles nos atrapalhem em momentos em que não faz sentido. De que adianta tirar férias e continuar tendo sentimentos ansiosos em relação ao trabalho? Ou estar em uma festa com os amigos e ficar se preocupando com uma relação romântica que não deu certo? É nesses momentos que o mindfulness pode ser um dos nossos maiores aliados!
Mindfulness versus meditação: qual a diferença?
Se você for pesquisar, existem muitas dúvidas a respeito da relação entre meditação e mindfulness. No entanto, é importante lembrar que não são a mesma coisa!
A meditação é frequentemente vista como uma prática religiosa e/ou espiritual, na qual o objetivo é esvaziar a mente e entrar em um estado contemplativo. Embora o mindfulness também tenha esse objetivo de “esvaziar a mente” das preocupações, ele não tem o objetivo de esvaziar a mente como um todo, mas sim de restabelecer a conexão com o momento presente, além de não ter nenhuma ligação com qualquer tipo de religiosidade e/ou espiritualidade.
Na meditação, geralmente é necessário um tempo e um espaço específico para a prática. O lugar deve ser tranquilo, com pouca poluição sonora, com privacidade, entre outros. Já o mindfulness pode ser praticado em qualquer lugar e em qualquer horário, seja numa balada ou durante o jantar em casa. Pode ser feito só ou quando se está junto de outras pessoas e não existe postura corporal específica para sua prática.
Resumindo: tratam-se de práticas bem diferentes, com modos de realização diferentes e resultados diferentes também!
Como eu coloco isso em prática?
Aqui vão alguns exercícios de mindfulness que você pode usar no dia-a-dia. Lembrando que o mindfulness busca entrar em contato com o momento presente, independente do que esteja acontecendo, então não é preciso buscar um espaço calmo e tranquilo como se fosse uma meditação — basta focar no que está acontecendo nas imediações.
Não se sinta mal caso não consiga manter a atenção plena durante muito tempo. Adquirir essa habilidade é como desenvolver músculos na academia: é preciso treino frequente. Por isso, nas primeiras tentativas, é comum que venham diversos pensamentos de julgamento em mente, basta reconhecer que são pensamentos de julgamento e deixá-los ir, voltando a atenção à atividade sendo executada.
Exercício 1: Descrição de objetos
Uma das formas de entrar em contato com o presente imeadiato é prestar atenção aos arredores. Para que isso seja mais fácil, você pode escolher alguns objetos no seu campo de visão e descrevê-los mentalmente.
Por exemplo, em uma sala de estar, você pode começar a falar mentalmente:
“Estou vendo um sofá com duas divisões, formando três espaços para três pessoas se sentarem. O sofá é bege e possui uma textura aveludada. Em frente ao sofá, há uma mesinha de centro com um porta-retrato e estatuetas de divindades, bem como um controle remoto. Mais à frente, acopalhada à parede, há uma televisão de tela plana, acredito que tenha 32 polegadas. No momento, está passando um programa de competição de cozinha.”
Este exercício é especialmente interessante em momentos em que você sente a ansiedade chegando. Prestando atenção nos arredores, percebendo que não existe uma ameaça iminente e desviando a atenção das reações fisiológicas da ansiedade, é possível evitar que os níveis de ansiedade se elevem ainda mais.
Exercício 2: Varredura mental do corpo
Em alguns momentos, prestar atenção no próprio corpo também aumenta essa conexão com o aqui-e-agora. A varredura mental do corpo é um exercício que consiste em prestar atenção nas sensações corporais em determinadas áreas, uma de cada vez.
Uma maneira simples de começar é prestando atenção no ritmo da respiração. Sentir o ar entrando e saindo, bem como a movimentação do abdomen que infla com a entrada do ar e desinfla com a sua saída.
Depois, é possível sentir outras partes do corpo: a pressão do chão sob os pés, a pressão do assento na parte inferior do corpo (caso esteja em uma cadeira ou sofá), a forma que o corpo sente a temperatura ambiente, se há ou não há brisa, a humidade do ar, entre outros.
A chave aqui está em prestar atenção na maneira que o corpo está percebendo o mundo ao seu redor, voltando-se inteiramente para o momento presente.
Exercício 3: Comer consciente
Comer com atenção plena é bom tanto para aproveitar melhor o alimento como também para combater compulsões.
Ao comer consciente, prestamos atenção nos sabores, texturas, temperatura, as misturas dos alimentos, aproveitando tudo de forma relaxada e sem pressa.
Com esse exercício, também prestamos atenção aos sinais que nosso corpo dá, como sinais de saciedade. Tendo consciência dessa sensação, fica mais fácil tomar a decisão de parar de comer, evitando passar dos limites.
Espero que este artigo tenha sido esclarecedor e, em caso de dúvidas, fique à vontade para conversar comigo!